28/04/2009

O Olhar Encena [9]


Obrigado, carcereiro

"Cerca de 40 crianças, de cinco a sete anos, estudam, desde agosto, em uma cadeia desativada em São Pedro do Iguaçu (oeste do Paraná). A única escola da comunidade foi destruída por um vendaval." (Cotidiano, 3 de abril de 2009)

O filho, de sete anos, voltou para casa furioso: agora a gente tem aula na cadeia, papai! O homem ouviu em silêncio, passou a mão na cabeça do menino, mas não disse nada. Como poderia dizer? Como poderia contar ao filho que naquela mesma cadeia — quando era cadeia de verdade — ele estivera preso, dez anos antes? Verdade que se tratava de uma transgressão menor, um furto, e que aquela era a primeira vez que ia preso; mas, para sua família, de gente pobre, mas honesta, aquilo era um desastre. Coisa que reconheceu e que o deixou profundamente deprimido.

Salvou-o o carcereiro. Esse homem, ignorante, revelou-se um verdadeiro mestre. Dando-se conta da aflição do rapaz, procurou-ampará-lo: veja isso como uma lição, trate de mudar sua vida, você conseguirá.

Saindo da prisão, arranjou um emprego, melhorou de vida. Casou, teve um filho, menino vivo, inteligente, que era para ele uma verdadeira realização. E agora o filho freqüentava, ainda que de modo diferente, a mesma cadeia. Havia uma lição naquilo. Uma lição que não saberia, assim como o menino, traduzir em palavras candentes. Mas que era uma lição importante, ah, isso era.

Moacyr Scliar

Fonte: Folha de S. Paulo, 6 de abril de 2009, Cotidiano, C2





















O Chá
Wesley Duke Lee


Orleyd Faya
Diretora do Núcleo MOTIN


Colaboração de Madeleine Alves

2 comentários:

Marcus disse...

otimo post
isso resume bem quando lemos um texto, tentamos fazer a analise e nao encontramos palavras para decifrar, mas podemos sentir!

Ge Macedo. disse...

Uma pequena cronica mas com uma lição enorme!