31/03/2009

O teatro e a educação

Por Geórgya Corrêa

Tenho hoje uma escola que tem no teatro seu eixo principal. Acredito no teatro não só como uma matéria, mas um projeto de vida. Me formei através do teatro e não faço teatro, sou teatro.

Quando criança, estudei em diversas escolas estaduais e municipais, onde tinha 'educação' formal, mas a construção do meu eu, da minha autonomia e até da compreensão do 'o que fazer' com o que aprendia na formalidade se deu na 'informalidade'. Foi no teatro que descobri o verdadeiro significado da palavra grupo, coletivo, democracia, autoridade e liberdade.

Aos 8 anos, no meu grupo teatral formado por diversos atores, todos bem mais velhos e experientes que eu, me sentia fazendo parte de algo, onde a minha contribuição era fundamental, independente da quantidade de 'horas de conhecimento' que eu tivesse, mas onde a qualidade do meu trabalho e a responsabilidade que eu assumia diante dele era imprescindível. A minha ausência traria um grande prejuízo para todos, ficaria faltando uma parte importante do todo. Lá, todos podíamos opinar e contribuir, mas a direção era clara. Não me sentia insegura nem oprimida e, a partir do que era a minha contribuição, a minha personagem, embora estivesse seguindo o que a direção estabelecia, a coreografia, o texto e sua seqüência exata e precisa, as músicas, enfim, tudo o que determinava o 'andar do espetáculo' , mesmo assim eu tinha total liberdade de desenvolver a minha personagem, criar e recriar, dando o melhor de mim.

E as relações em grupo!? Quem é ator sabe do que estou falando. Mas percebi logo que o respeito e a ética eram fundamentais e, assim, um exercício constante de cidadania!

Lá também descobri a diferença entre o mundo das idéias e a realidade. Onde o primeiro pode ser o ponto de partida ou fornecer subsídios para o segundo, mas o real, o real só acontece na ação. É incrível ver um papel cheio de letrinhas (bidimensional - conceito que eu havia escutado na escola mas que não compreendia realmente) se transformar em algo tridimensional, algo vivo. Também vi isso acontecer nos desenhos iniciais dos cenógrafos e figurinistas, que saíam do papel e se tornavam algo real e palpável. Cada peça do figurino, cada adereço ou parte do cenário continham matemática, história, geografia, e tudo estava ali!

E com os textos, quanto de português aprendi, não só gramática mas também a percepção de que o que ali estava escrito, da forma gráfica mais perfeita possível dentro da língua portuguesa, com toda a parafernália de verbos, adjetivos, substantivos, sinais gráficos...Os textos podiam, ainda assim, abrir-se a diversas compreensões de acordo com as entonações, e, dependendo de como se transformavam na boca de cada ator, as palavras poderiam ter um significado diferente, ser compreendidas de maneiras tão distintas a partir da percepção e compreensão de cada um. Mais tarde descobri ainda que não importa a língua escrita, isso ocorre em qualquer idioma e podemos passar as informações, em qualquer idioma, através de nossas entonações e a da expressão dos nossos sentimentos.

No teatro descobri que, para compreender um texto e até mesmo para negá-lo, precisamos estudar muito, mas muito mesmo, principalmente para negá-lo, e foi quando ficou então claro para mim o conceito de liberdade - tão diferente de inconseqüência e tão confundida com ela. Posso ter liberdade para fazer o que quiser, desde que saiba o que estou fazendo, e isso dá um trabalho... Conhecer é realmente algo muito trabalhoso! Por exemplo, em relação a um texto, quem o escreveu, em que contexto, em que época, onde, para quê ou quem, e dá-lhe estudo (geografia e história no mínimo!).

Atuei no teatro até abrir a minha escola de educação infantil e ensino fundamental, onde a cada dia procuramos vivenciar com nossas crianças todos esses conceitos fazendo teatro. Nela, a intenção não é formar artistas, mas pessoas, não é apenas educar, mas trazer cultura, viver cultura, reconhecer a cultura existente em cada um, em cada lugar.

O teatro funciona também como um foco de interesse, algo a ser desenvolvido, como um caminho claro a ser trilhado, trazendo um produto final compreendido pelos alunos. É um estímulo para o desenvolvimento do que tem de ser estudado. Para as crianças, estudar algo simplesmente porque 'quando eu for adulto precisarei destes conhecimentos para...' (mesmo que muitas vezes não se saiba bem para quê) é algo muito vago. Agora, encarar os conteúdos transmitidos entendendo: preciso desses conhecimentos para desenvolver minha personagem, realizar da melhor forma essas coreografias dentro de determinado espaço e em determinadas direções, reconhecer o meu sistema respiratório e muscular para ter fôlego e cantar enquanto danço, aprender cálculos matemáticos para projetar adereços, maquete do cenário ou mesmo o próprio cenário, ler o texto fluentemente, fazendo uso das regras ortográficas para minha melhor compreensão do que estou dizendo, entre tantas outras coisas, os motiva e, motivados, eles se desenvolvem felizes e com paixão. Sim, paixão! É isso que vejo surgir nos olhos dessas crianças que se apaixonam pela escola, que não querem faltar, ter férias ou finais de semana.

E nas apresentações realizadas no final do ano! Cada ano elas acontecem em lugares diferentes, na própria escola, num teatro no Parque da Água Branca, num teatro próximo à escola, mas, independente do local, é o momento onde se apresentam, se mostram, mostram seus conhecimentos, a dedicação de um ano de trabalho duro, mas que valeu a pena, pois a hora é só deles. Prontos, com textos, coreografias, músicas, marcas decoradas, figurinos finalizados, o cenário pronto, o cartaz confeccionado por eles. Ao entrar em cena eles são o foco de interesse de pelo menos duzentos pares de olhos atentos e emocionados. Quer um momento melhor para chamar a atenção sem precisar de birras, 'malcriações', jogos que não levam a nada?! Estão, neste momento, cobertos de atenção.

E a coragem destas crianças que, sozinhas, levam um espetáculo de 50 minutos. Entrar em cena... esse pequeno instante que necessitamos de muita coragem, disciplina, concentração. E, no final, aplausos. Aplausos merecidos e verdadeiros pelo empenho despendido. Esse é o foco de interesse deles, compreendido por todos num curto prazo. Isto os motiva tanto que, no ano seguinte, os ouvimos cantando pela escola as músicas da peça encenada no ano anterior. Aos poucos vão se despedindo da montagem anterior como se fosse um amigo querido sempre lembrado e, só depois, aos poucos, carinhosamente, nós, “professores”, vamos lhes apresentando a próxima peça que será encenada e, também aos poucos, eles vão novamente se apaixonando.

Por isso digo que nunca deixei de fazer teatro, pois não é possível simplesmente deixar um braço para fazer uma caminhada. Ele pode ser arrancado ferozmente por um acidente, mas não deixado. O teatro para mim é assim. É parte de mim e, a menos que me seja arrancado ferozmente, estará sempre comigo.

30/03/2009

Dinâmica Percepção e Experimentos 2009_1: DANDO CORPO À MEMÓRIA

Um trabalho a partir das memórias pessoais. Estiveram em foco: a linha do tempo de cada participante, com destaque para os fatos por ele vividos e para os fatos acontecidos em seu entorno. Um mergulho naquilo que nos marcou em nossa história pessoal, as nossas sonoridades, as nossas paisagens... Deste material brotou a criação.

Virgínia Costábile
Integrante do Núcleo MOTIN
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Ficha:Dinâmica Percepção e Experimentos 2009_1: DANDO CORPO À MEMÓRIA.Realização: MOTIN: Movimento de Teatro Independente.Responsável: Virgínia Costábile Apoio/Execução: Orleyd Faya Suporte Administrativo: Magali Romano Encontro realizado no dia 29 de março de 2009 no Espaço 2 de Artes - São Paulo - São Paulo - Brasil Participaram desta dinâmica: Celso Sekiguchi, Danilo Gambini, Eliana Sotero,Felipe Augusto S. Dias, Geórgya Corrêa,Luciene Óca, Ludmilla Corrêa, Márcio Marques,Marcus Sioffi,Mariana Castro, Seth Cláudio L. Nascimento, Rose Laine Avlis, Sérgio Ferreira.

O Olhar Encena [2]

Pesam-me as pálpebras


nos pés arrastados.

Quisera dormir


porque ando.

Tenho a boca fechada


como se fosse


para os beiços se pegarem.

Uma ou outra pessoa


olha-me


como se me conhecesse

e me estranhasse.


Sinto que os olho também


com órbitas sentidas


sob pálpebras que as roçam,

e não quero saber


de haver






mundo.






Bernardo Soares


Orleyd Faya
Diretora do Núcleo MOTIN

Colaboração de Madeleine Alves

27/03/2009

O Olhar Encena [1]

"De repente, os olhos são palavras."
(Pablo Neruda)

“Quem compreende que o mundo
e a verdade sobre o mundo são
radicalmente humanos, está preparado
para conceber que não existe um mundo
em si, mas muitos mundos humanos, de
acordo com as atitudes ou os pontos de
vista do sujeito existente”.
(W. Lujipen)

O conceito definidor de realidade é de uma natureza extremamente complexa. É pouco provável que qualquer um que se aventure neste campo seja capaz de chegar a conhecer a totalidade do chamado real, de tudo aquilo que compõe o conjunto de uma determinada sociedade. Tanto mais quando se tem em mente que a conceituação de uma determinada realidade – daquela fatia dela que habitamos, por exemplo -, nos é dada pelos diversos e heterogêneos grupos sociais e culturais que a compõem.

A partir do instante em que se multiplicam os pontos de vista sobre uma parcela específica do real, uma determinada definição dele certamente poderá (e certamente há de) parecer não-lógica ou até mesmo insana para qualquer um que a observe a partir de uma outra perspectiva.

Assim, o mundo de qualquer pessoa resume-se àquilo que ela é capaz de captar dele através de sua consciência. E a consciência apreende as coisas por meio dos instrumentos de que dispõe para fazê-lo; dentre os quais está o olhar.

Pode-se dizer, portanto, que a realidade é um produto que resulta tanto da materialidade do mundo como do sistema de significação utilizado para dar-lhe uma determinada conceituação.

Em razão disso, numa temerosa tentativa de manter o meio em que vivemos conhecido e previsível, procurando evitar que a partir dele surjam quaisquer sinais que possam suscitar dúvidas ou questionamentos que nos conduzam a refletir sobre nossas identidades e sobre a identidade das coisas e das pessoas que nos cercam, buscamos manter nossa realidade estacionária, imutável objetiva e subjetivamente, estabelecendo para tanto uma rotina garantidora de um ambiente sólido, no qual possamos viver sem o incômodo de mudanças bruscas que possam vir a nos surpreender. Sem conflitos.

No entanto, na ausência de conflito o Teatro não existe. Uma ação só pode ser considerada dramática se tiver a capacidade de gerar interesses e paixões outros, que se oponham a ela. É só quando se dá o choque de um desejo consciente dirigido à obtenção de um objetivo determinado com outros desejos e outras paixões que a ele se oponham que vemos nascer o Drama.

É fascinante divagar sobre o que há de surgir dos encontros não sabidos que nos aguardam silenciosos nas esquinas percorridas por tantas diferentes e possíveis trajetórias que se oferecem ao nosso olhar. Venturoso será nos debruçarmos sobre elas!

Orleyd Faya
Diretora do Núcleo MOTIN





FAGULHA



Ana Cristina César
Rio de Janeiro, 1952-1983


Abri curiosa

o céu.

Assim, afastando de leve as cortinas.

Eu queria rir, chorar,

ou pelo menos sorrir

com a mesma leveza com que

os ares me beijavam.


Eu queria entrar,

coração ante coração,

inteiriça,

ou pelo menos mover-me um pouco,

com aquela parcimônia que caracterizava

as agitações me chamando.


Eu queria até mesmo

saber ver,

e num movimento redondo

como as ondas

que me circundavam, invisíveis,

abraçar com as retinas

cada pedacinho de matéria viva.


Eu queria

(só)

perceber o invislumbrável

no levíssimo que sobrevoava.

Eu queria

apanhar uma braçada

do infinito em luz que a mim se misturava.


Eu queria

captar o impercebido

nos momentos mínimos do espaço

nu e cheio.

Eu queria

ao menos manter descerradas as cortinas

na impossibilidade de tangê-las

Eu não sabia

que virar pelo avesso

era uma experiência mortal.













Foto: Alan Sailer



Colaboração de Madeleine Alves

25/03/2009

As Intrincadas Relações do Poder e da Arte através dos Tempos - Parte 1

A certeza do potencial da criação artística enquanto elemento a conferir poder sobre o homem e sua realidade não é um dado propriamente novo na História Humana.
Já no Paleolítico, celebrando seus rituais mágicos, e fazendo desenhos no interior de escuras cavernas, encontramos o homem-caçador primitivo produzindo arte com objetivos inteiramente pragmáticos; visando alcançar, através de sua criação, benefícios econômicos diretos.
Com os mesmos propósitos, também, “(...) os caçadores da Idade do Gelo que se reuniam na caverna de Montespan em torno de uma figura estática de um urso estavam eles próprios mascarados como ursos. Em um ritual alegórico-mágico, matavam a imagem do urso para assegurar seu sucesso na caçada.”. (Arnold Hauser)
Assim, persistindo no exame da trajetória da humanidade ao longo dos séculos, concluiremos facilmente que desde sempre a Arte esteve relacionada à obtenção do Poder, em suas mais variadas formas.
Pelo mesmo motivo, em Roma, no século III, a Pintura veio a tornar-se, dentre todas as Artes, a mais popular.
Caso optássemos por continuar em nossa investigação, veríamos a coleção de nossos exemplos crescer, tendendo ao inesgotável. Mas o que colhemos até aqui já nos autoriza a vislumbrar, talvez, a possibilidade de que esta percepção ancestral do valor intrínseco da produção artística, enquanto instrumento de interferência efetiva no comportamento e na vida do homem, tenha sido um dos fatores a embasar as inúmeras e plurifacetadas relações que o Poder e a Arte têm travado através dos tempos.
O fato é que a Humanidade sempre percebeu a Arte como sendo capaz de propulsionar a mudança ou colaborar na manutenção do status quo. Por esse motivo, desde sempre houve, por parte do Poder instituído, um enorme esforço empreendido com o intuito de apropriar-se e/ou de manter o controle sobre os bens culturais da sociedade.
Exemplos disso podemos encontrar já em tempos remotos, a partir dos poucos registros que nos restam a respeito da produção artística do Antigo Oriente; pois que eles também atestam a utilização consciente que o Poder Real e o Poder Sacerdotal faziam das diversas modalidades de criação.
Notícias da utilização da poesia com fins de propaganda estão presentes também na produção poética da Idade Heróica, na Grécia.
A Idade Média traz consigo uma mudança radical nos padrões estéticos em vigor até então; uma mudança que reflete, nitidamente, o Poder Absoluto assumido pela Igreja, naquele período.
Já em Bizâncio, no século V d.C., era da corte que partiam as únicas encomendas para obras de Arte, mesmo aquelas cuja destinação final era a Igreja.
Também a Arte do século IX d.C. deriva em todos os sentidos dos ditames da Igreja todo-poderosa.
O século X vê surgirem as monumentais igrejas românicas, consideradas por muitos estudiosos do assunto como as mais importantes criações da Arte medieval. Denominadas fortalezas de Deus, estas construções extremamente amplas, sólidas e maciças não guardam relação alguma com o tamanho de suas congregações.
Mas foi somente na Idade Média tardia que a Arte passou a refletir o gosto da classe média, detentora do Poder econômico a partir de então.
Chegando à Renascença, o caráter artesanal da obra de Arte ainda continua predominando, em linhas gerais. O impulso inicial para a produção artística permanece sendo ditado por aquele que a encomenda, por aquele que paga por ela, pelo Poder econômico, portanto; e não pela inspiração espontânea daquele que a produz.
Ainda há um outro aspecto da questão que não podemos deixar de pontuar: também tem partido do artista, não poucas vezes, a procura por seu próprio regime de servidão, através de acordos que ele mesmo efetiva, ao longo da História, negociando seu ofício em troca dos beneplácitos do Poder – seja ele público, religioso, de cunho econômico, ou militar -, quase sempre com o intuito de alcançar e usufruir indevidamente de vantagens pessoais.
O mesmo tem acontecido com o Teatro.
Desde sempre, através dos tempos, o Poder tem se servido do Teatro, ora como instrumento de catequese, ora de propaganda, ou como forma de obter legitimação. Sempre no sentido de garantir o domínio e dar suporte à sua autopromoção. E, para fazê-lo, tem se valido de inúmeros expedientes: a força, a censura, o patrocínio, a cooptação. Desde há muito tem sido assim.
E no Brasil, não tem sido diferente. Os Governos - a despeito do dever Constitucional do Estado de garantir apoio à Cultura - têm patrocinado apenas o Teatro Oficial, e/ou têm tornado Oficial o Teatro que patrocinam.
As relações entre Poder e Teatro têm início, entre nós, a partir do seu emprego enquanto instrumento da catequese imposta pelos jesuítas aos nossos índios, tendo como mecenas a Igreja.
Documentos datados dos últimos anos do século XVIII, produzidos na Colônia portuguesa na América, determinam que haja “(...) obrigatoriamente espetáculos ao
menos por ocasião do aniversário do Governador da Província, das autoridades eclesiásticas ou em homenagem a membros da família real portuguesa.” (J. Galante de Souza)
Antes de ser Arte ou diversão, portanto, o teatro propunha-se como cerimônia cívica, atestando, mais uma vez, a incômoda relação de subserviência em que se mantinha diante das diversas esferas de Poder regulador da vida nacional.
No entanto, a ação mais efetiva do Poder do Estado sobre o Teatro, no Brasil, podemos considerar que se inaugura com a chegada da Família Real Portuguesa, que desembarcou no Rio de Janeiro, em 1808, fugindo dos exércitos de Napoleão.
Em 1810, o Príncipe Regente, futuro D. João VI, manifesta, por meio de um decreto, o desejo de que “(...) nesta capital se erija um teatro decente e proporcionado à população e ao maior grau de elevação e grandeza em que hoje se acha pela minha residência nela.” (J. Galante de Souza)
Alguns anos mais tarde, o Poder Real oficializaria suas primeiras exigências, em troca dos favores oferecidos. Um decreto de 1849 criou o cargo de Inspetor dos Teatros
Subvencionados, profissional que deveria “(...) fiscalizar o emprego dado pela direção de cada teatro aos auxílios concedidos e inspecionar, sobretudo, a marcha daquelas casas de espetáculos no que diz respeito ao cumprimento das obrigações, mediante as quais lhes teriam sido outorgados quaisquer subsídios.” (J. Galante de Souza)
A conclusão nos vem, ainda, através das palavras de Décio de Almeida Prado:
“(...) recapitulando e sintetizando, para terminar estes três séculos de domínio português, diríamos que o teatro brasileiro oscilou, sem jamais se sustentar, entre três sustentáculos: o ouro, o Governo e a Igreja Católica.”


Orleyd Faya
Diretora do Núcleo MOTIN

21/03/2009

Algumas frases que nos fazem pensar em teatro

Lembrando o “Dia Internacional do Teatro”, convém ler e refletir a respeito das coisas que alguns daqueles que dedicaram sua vida a este ofício tiveram a dizer de notável sobre ele. Nossa reverência a todos eles, e ainda mais a tantos outros que certamente terão dito outras palavras igualmente importantes que jamais foram registradas, de forma que nós também jamais chegaremos a bebê-las.

“(...) o dinheiro nos abandona. O cinema toma a dianteira, é mais forte que todos os pavilhões de isolamento: a tela cai e esconde o nosso palco. Nosso público está frouxo e a crítica neurastênica (...) a tempestade ainda paira sobre nossas cabeças, e nós continuamos a cantar em nosso navio que naufraga. Os ratos deixaram este navio, o mais depressa possível.Vamos pendurar nossas camisas nos mastros, para que o vento encontre alguma coisa. E não nos deixemos cair no desespero. Não é o fim do mundo, meus amigos”. (Bertold Brecht, teatrólogo alemão, provavelmente no ano de1924).

“Necessitamos da magia, mas a confundimos com o truque e misturamos desesperadamente amor com sexo, beleza com esteticismo”. (Peter Brook).

“Eu sei de mim muito pouco. Mal me vejo e quase nem me reconheço. Em que atalho do caminho me perdi? Por que minha consciência está entorpecida? Por que só raras vezes a velha chama me brota no peito? Eu me abro com todos. Se eu não for sincero, estou para sempre perdido”. (Plínio Marcos, dramaturgo brasileiro).

“Quando a floresta suavemente agitada pela brisa atrair os olhares de Siegfried, nós, os espectadores, olharemos para Siegfried banhado de luz e de sombras em movimento, e não mais para pequenos trapos recortados e mexidos através de barbantes”. (Adolph Appia)

“O artista tem que ser gênio para alguns e imbecil para outros. Se puder ser imbecil para todos, melhor ainda”. (Nélson Rodrigues, dramaturgo brasileiro).

“Para mim, a questão básica do teatro é fazer compreender a atualidade de uma pessoa. No cinema ou na televisão, as pessoas estão retratadas, representadas; mas no teatro, a pessoa está realmente ali, presente fisicamente no momento. Por isso, o maior interesse do teatro é achar o modo de descobrir a essência atual da pessoa num espaço, a pessoa-ator e a pessoa espectador”. (Joseph Chaikin, fundador do “Open Theater” – década de 1960, nos EUA).

“O surreal está fortemente ligado a nossas mãos, a nossa conversa diária”. (Ionesco, dramaturgo do mais comumente chamado “Teatro do Absurdo”).

“Essas obras me fascinam, porque nos proporcionam a possibilidade de um confronto sincero, um confronto brutal e repentino, entre, por um lado, as crenças e experiências da vida das gerações que nos precederam e, por outro, as nossas próprias experiências e preconceitos”. (J. Grotowski, em “Em Busca de um Teatro Pobre”).

“Todo o humano é confuso.” (Fernando Arrabal, fundador do “Teatro Pânico”).

“A arte é um pouco mais dilatada que a vida, é uma exaltação da vida, para isso é necessário um toque de loucura.” ( Sir Laurence Olivier, ator)

“Eu, Antonin Artaud, sou inimigo do teatro. Sempre fui. Na proporção em que amo o teatro, nessa proporção, por essa razão, sou seu inimigo”. (Antonin Artaud, fundador do “Teatro da Crueldade”).


Orleyd Faya
DIRETORA DO NÚCLEO MOTIN

20/03/2009

Dinâmica Percepção e Experimentos: Dando Corpo à Memória

Atenção, leitores do MOTIN: terminam hoje as inscrições para a primeira dinâmica Percepção e Experimentos de 2009: DANDO CORPO À MEMÓRIA, conduzida pela Bailarina e Diretora Corporal Virgínia Costábile.
Então, para quem está interessado, lembramos que é apenas necessário o envio de currículo e carta de intenção para motin07@gmail.com
para participar da seleção. E as dinâmicas não têm custo para os participantes.

DINÂMICA PERCEPÇÃO E EXPERIMENTOS 2009/1 :
DANDO CORPO À MEMÓRIA
Amotinada: Virgínia Costábile
Data: 29 de março de 2009 (domingo)
Horário: das 16 às 22 horas
Local: Espaço 2 de Artes - Sala Linneu Dias (Rua Clélia, 33 - Shopping Pompéia Nobre - Perdizes - São Paulo)
Público Alvo: Atores e bailarinos
Inscrições: até 20.03.2009

Veja Por Si

"Não sei




q u a n t o s





terão contemplado,





com o olhar que merece,





uma rua





d e s e r t a






gente


com
nela."








(Bernardo Soares)





Olho por Olho, de Augusto de Campos


Madeleine Alves
Colaboradora do Núcleo MOTIN

19/03/2009

17/03/2009

IMAGEM CORPORAL

Todo indivíduo possui uma imagem corporal de si e uma bagagem gestual construída desde a primeira idade, e que está em contínua transformação. A história individual está registrada em seu corpo, através de tensões, postura, gestualidade, ritmo, enfim, através de tudo que ele expressa. Trabalhá-lo significa encadear todo um processo de mudanças, que se refletirão em todos os campos de atuação do indivíduo.
O bebê já tem percepções e sensações na fase intra-uterina. Ao nascer, experimenta uma gama incrível de novas informações sensoriais. Quando sente fome, sede ou frio vivencia a sensação de desprazer que, em termos corporais, gera contrações. Nas sensações prazerosas, responde corporalmente relaxando e descontraindo a musculatura.
Esse processo continua durante toda sua vida e qualquer mudança psíquica provoca uma resposta motora, como tensão ou relaxamento muscular. Essa relação entre atitude psíquica e corporal é tão próxima que não apenas a mudança de atitude psíquica provoca reações musculares, mas também toda mudança de estados de tensão e relaxamento provoca alteração nas atitudes psíquicas.
Criamos um registro corporal através das respostas às percepções e sensações experimentadas. Esse registro, ou memória corporal, permanece, mesmo em relação a acontecimentos que não sejam mais conscientes. Podemos dizer “que cada ser é seu corpo. Se você é seu corpo e seu corpo é você, este poderá expressar quem você é. É sua forma de estar no mundo. Quanto mais vivo for o seu corpo, mais vivamente você estará no mundo.” (LOWEN, 1975, p. 48)
Através de exemplos simples podemos observar esse registro corporal. Uma pessoa que passa por uma fase de depressão tende a restringir sua respiração, tornando-a mais curta e superficial. Os movimentos da caixa torácica tornam-se limitados e a musculatura envolvida deixa de ser utilizada em sua plenitude. Músculos sem exercício tornam-se fracos e têm menos plasticidade. Quando esta pessoa quiser respirar amplamente irá encontrar resistência física.

Se uma pessoa machuca um pé, ela compensa jogando o peso na outra perna como forma de evitar a dor. Com o passar dos dias, as musculaturas que estão sendo sobrecarregadas tornando-se mais fortes em oposição às musculaturas do pé afetado. Quando a dor passa, a pessoa pode ter a impressão de parar de mancar, mas o padrão compensatório permanece de forma sutil. A musculatura que sofreu sobrecarga evitará que o peso volte a cair no pé da mesma forma que antes do machucado. O corpo se manterá em equilíbrio precário. Com esses exemplos, fica fácil compreender que o corpo tem memória e que nossa história está registrada em nosso corpo, mesmo que não tenhamos consciência disso.
Nossa auto-imagem ou imagem corporal é construída, principalmente, através da ação e está em contínua transformação (SCHILDER, 1999). Podemos concluir que a ação em relação ao nosso próprio corpo, aos objetos e a outras pessoas, amplia nossa sensibilidade e consciência sobre as várias partes de nosso corpo e nos ajuda a senti-las de forma integrada. Quanto mais mobilizarmos nossas musculaturas e articulações através do movimento, tanto maior será a percepção adquirida de nosso corpo e de suas potencialidades de expressão.
O modelo que construímos do nosso corpo é subjetivo e vai além da estrutura física; dessa forma, a imagem corporal se estende a objetos e se propaga no espaço. Ao se propagar no espaço ela cria uma espécie de aura ou zona de sensibilidade que varia conforme situações específicas. Para senti-la basta que alguém com quem não tenhamos intimidade se aproxime de nós. Mesmo que não sejamos tocados, sentiremos a intromissão da pessoa em nossa imagem corporal. Essa zona de sensibilidade, juntamente com fatores relativos à educação e à cultura, explicam a distância espacial que estabelecemos em relação às pessoas. Quanto maior nosso grau de intimidade, maior será nossa proximidade corporal. Podemos, assim, verificar a estreita relação entre nosso estado emocional, a zona sensível que envolve nossa imagem corporal e o espaço físico.
A percepção de nosso corpo e, consequentemente, seu uso como veículo expressivo, podem ser bastante prejudicados se a energia deixar de fluir livremente pelo corpo, devido ao acúmulo de tensões musculares. Essas tensões podem ser fruto de má postura proveniente da adaptação por longo tempo a objetos sem critérios ergonômicos, como uma cadeira, por exemplo. Também podem ser resultado de situações emocionais ou físicas dolorosas e ameaçadoras. Caso o trauma seja repetido ou mesmo muito forte, não conseguimos liberar essas tensões, que se tornam crônicas.
A tensão crônica pode atingir níveis tão elevados que deixa de ser sentida conscientemente. A contração reduz a amplitude dos movimentos devido à rigidez e à falta de energia, e as partes atingidas podem dar a impressão de estarem engessadas. Quando o fator de origem dessa tensão é emocional ou de ameaça física, ela gera uma espécie de escudo corporal, uma couraça protetora contra impulsos ameaçadores de terceiros ou de nossa própria personalidade.
Em termos de comunicação, tensões musculares impedem a livre circulação de energia pelo corpo e fazem com que nossos movimentos e gestos não ocorram com a fluidez e a harmonia necessárias. Nossa auto-expressado fica limitada e, como não somos capazes de nos expressar de forma satisfatória, nossa capacidade de sentir prazer e manifestar criatividade diminui. Mesmo que tentemos nos expressar com entusiasmo através das palavras, nosso corpo não mentirá e provocará a sensação de estranhamento em nossos interlocutores.
Como foi dito, é principalmente através do movimento que construímos nossa imagem corporal e também é através da ação que podemos modificá-la. Ao nos movimentarmos podemos trabalhar as tensões e a rigidez de nossa imagem, fazendo com que o fluxo energético percorra nosso corpo de forma mais equilibrada e, ao mesmo tempo, estaremos trabalhando mudanças de atitudes psíquicas.
Outra forma bastante efetiva de atualização da imagem corporal pode se dar através da massagem. Destacamos a abordagem biodinâmica por considerar o indivíduo tanto em suas condições emocionais quanto em suas funções físicas relacionadas. De forma geral, a massagem biodinâmica busca a auto-regularão energética, através da remoção de carga residual de estresse ou de um excesso de carga emocional no organismo. A massagem pode ser realizada com diferentes intenções, ritmos e formas de toque e, também, em diferentes camadas (pele, músculos e ossos), considerando as áreas com excesso, estagnação ou falta de energia. Assim, ela atua tanto na dissolução da tensão muscular crônica (hipertonia), quanto na vitalização de áreas com pouco tônus muscular (hipotonia).
Ao nos libertarmos de padrões estabelecidos, somos capazes de entrar em contato com a realidade e agir sobre ela de forma viva, espontânea, ou seja, a ação ajustada à situação do momento. Nos envolvemos de forma física, emocional, intelectual e, principalmente, intuitiva; e criamos novas possibilidades de interação, como forma de descobrir e desenvolver novas potencialidades.


Gisele S. Jorgetti
Integrante do Núcleo MOTIN

15/03/2009

Escher

fonte: http://www.globalgallery.com/enlarge/015-20783/

Esta imagem de Escher foi uma das referências utilizadas na Dinâmica Percepção e Experimentos 2008_1: ARRABAL: ABSURDO OU PÂNICO?.
Uma ilusão ou pura realidade?
Sua apropriação, feita por um dos grupos de participantes, pode ser vista no registro fotográfico da postagem da PE 2008/1.

Orleyd Faya
Diretora do Núcleo MOTIN
a

10/03/2009

Provocadores - Postagem Inaugural

Todos estamos acostumados a encontrar obstáculos – tantas vezes colocados com propósitos que desconhecemos – em nossas atividades, em nossos trabalhos, em todos os setores de nossas vidas, enfim. Estes nós reconhecemos prontamente e prontamente contra eles nos pomos a lamentar.

De forma que pouco tempo nos sobra para agradecer aos nossos anjos, quando alguém – ao contrário do que estamos acostumados – se coloca ao nosso lado para nos ajudar a removê-los (os tais obstáculos). Principalmente quando este alguém – muito acima de nós nas esferas cotidianas - o faz desinteressadamente, do alto de seu cabedal de conhecimentos e tendo que empregar para tanto de esforço pessoal e – sobretudo – de muita generosidade. Quando alguém não hesita em colocar seu prestígio, meritoriamente conquistado, em benefício de alguma coisa que nós – também com bastante esforço – estamos trabalhando seriamente para realizar, atravessando, a despeito disso, dificuldades que nos parecem intransponíveis, e que por pouco não acabam por nos afastar daquilo que com tanto esforço objetivávamos concretizar. Quando alguém corre o risco conosco, embora julgássemos que tudo estava perdido.

Comigo também aconteceu assim, há alguns anos, quando lutava para levar a cabo o espetáculo que eu escolhera como meu projeto de formatura no curso de Bacharelado em Direção Teatral concluído na Escola de Comunicações e Artes, da Universidade de São Paulo.

O texto que se segue é de uma destas pessoas – abençoadas – que surgiram em meu caminho. De meu orientador naquele espetáculo de formatura: “Leonor de Mendonça”, de Gonçalves Dias.

Estou feliz, honrada, e mais uma vez enormemente grata – por ter a oportunidade de declarar meu agradecimento a este mestre, que se assina simplesmente Fausto Fuser, mantendo ocultos todos os seus títulos acadêmicos (talvez porque não caibam numas poucas linhas!?). Ou talvez porque ele simplesmente já tenha ultrapassado o estágio de quem precisa destas apresentações.

Agradeço em meu nome, em nome de todos os alunos e alunas aos quais o senhor deve ter feito o mesmo que fez por mim, Professor Fausto Fuser, e ainda em nome de todos os Amotinados pelo prazer e a honra de ter um texto seu inaugurando a Coluna Provocadores de nosso Blog.

Sou-lhe grata mais uma vez, Professor Fausto, e desta vez ainda mais por ter a possibilidade de fazê-lo com muito respeito publicamente e, especialmente por indiretamente servir de canal para que outros possam também absorver seus vastíssimos conhecimentos teatrais e sua generosidade humana.

Agradeço-lhe em nome de todos nós!
Ao texto, então!

Orleyd Faya
Diretora do Núcleo MOTIN


POLÍTICA CULTURAL – Quem tem medo deste bicho? – Primeira Parte
Por Fausto Fuser

Quando alguém se propõe a falar de “política agrária” num país de latifúndios de extensões pornográficas e muitíssimo suspeitas, todos os interessados e/ou envolvidos direta ou indiretamente sabem do que se vai tratar, quer do lado dos proprietários, quer do lado dos que sonham ou necessitam de uma distribuição mais humana, equilibrada e racional das terras, quando não se trata até mesmo da preservação da própria soberania nacional.
Mas quando alguém abre a boca para falar de “política cultural”, pode-se aguardar qualquer coisa, posto que o assunto entre nós é absolutamente imprevisível. O orador tem liberdade total para falar o que bem entender, ou o que quer que seja de seus interesses imediatos e pessoais, claros ou escusos ( fala-se destes, em geral). Porque a diferença?

Porque a questão agrária está “perto de nossas vidas” mesmo que sejamos urbanóides de carteirinha, dirão os apressados. Mas sem que ninguém se dê conta, as ações (ou inações) ligadas à “política cultural” estão na verdade bem mais perto de nossas vidas que a questão agrária, ou industrial, ou pesqueira ou petrolífera. E no final das contas é ela, a cultura e a sua aplicação sob a forma política que vai determinar todas as outras! .

Cultura, para muitos, é a proposta abstrata que alimenta alguns curiosos suplementos e cadernos de jornais e programas até interessantes de depoimentos e debates televisivos, alguns cursos universitários de pós-graduação na área teórica que rende algumas bolsas para alguns felizardos estudarem em Paris ou Bologna, e há ainda, sob o indicativo genérico da cultura, muitos empregos na administração federal, em Brasília, num grande escritório/cabide chamado Ministério da Cultura e sua vasta rede de ação em várias modalidades, todas na exaustiva e conhecida função do dolce far niente. Bom salário, ar-condicionado, apartamentos funcionais, regalias e mordomias e todos sentados nos fardos da carne seca e ditando regras bla-bla-blás à esquerda e à direita. E o futuro à frente, todo sorrisos. Êita, vidinha boa!

Há também uma infinidade de empulhações mais descaradas que são apresentadas de várias formas sob o rótulo de ações culturais , todas de efetivo proveito não declarado e nunca esclarecidos, assuntos mais pertinentes à Polícia Federal do que para os suplementos dos jornais que deixam esses monstrengos passar incólumes, não se sabe por quais interesses.

Sem falar ainda das centenas de Secretarias da Cultura nos estados e municípios com uma atuação muitas vezes cheias de evidente boa vontade, servindo-se de artistas, estudantes, professores e professoras, intelectuais e amadores vibrantes, sinceros, atuando por ninharias, mas que terminam em gestos que se sabe de antemão, vão cair no vazio, posto que não há fertilidade para eventuais boas semeaduras, porque não estão inseridas no todo da política cultural (porque inexistente) da nação. E sem esta consciência nacional, como um todo em mobilização unânime, muito dificilmente estas ações isoladas vão frutificar.


Se eu perguntar pelo nome do ministro da agricultura, vou ter uma resposta certa em proporção muito maior do que se perguntar pelos nomes do ministro da cultura e seu vice (tantas vezes em exercício). Isto porque um bom número de pessoas sabe que o responsável pelo ministério da agricultura é um grande fazendeiro/latifundiário, entende do assunto como poucos, fala e age como tal e representa muitos milhares de outros senhores de idêntico fazer e pensar e influencia diretamente nas ações e planejamentos de milhões de agricultores brasileiros.

E quem é o ministro da cultura e seu vice? Você já viu a cara desses caras? Sabe o que eles já fizeram? Que livros escreveram? Se professores, sabe-se que matérias lecionam, onde estudaram, quais os seus mestres, os seus pensamentos, as suas propostas, o que já fizeram na área? Você respeita e/ou admira suas posturas públicas quanto às manifestações e obras intelectuais e culturais do país, do passado e do presente? Alguém sabe o que eles querem e planejam para o futuro cultural do país? Eles são dignos da liderança da cultura nacional? Você acredita no que eles pregam? Desculpem-me: alguém já os ouviu fazendo alguma pregação, umazinha qualquer ou já leu alguma proposta ou tese deles, umazinha sequer? E atenção: uma montanha de dinheiro é repassada a certas abençoadas agências para fazerem a propaganda dessa gente toda!

Muitos detestam o nosso ministro da agricultura por quem ele é (e não esconde) e por tudo o que ele representa e já andou dizendo e fazendo, certo ou errado. Por tudo aquilo em que ele, sabe-se publicamente, acredita e busca tenazmente como objetivo da sua função ministerial e na liderança dos seus iguais. E sabe-se claramente tudo o que ele quer para o país, na agricultura.
Mas... e quanto aos responsáveis pela administração da política nacional da cultura? Dá para fazer as mesmas indagações, para o bem ou para o mal? Como ficamos? Alternativa correta: - Ficamos de chapéu na mão, como diziam os nossos avós.

Durante parte do período da nossa ditadura militar, estive num país europeu da “cortina de ferro”, em estudo. Naqueles tempos de Guerra Fria, os EUA estavam arrasando o Vietnam que se recusou a se curvar para o império. Tive então como colegas, muitos jovens do Vietnam, com os quais estabeleci contato de boa camaradagem, como todos os estudantes do mundo. Eles me perguntavam muito sobre o Brasil e eu fazia o mesmo sobre o país deles, naqueles dias sofrendo feroz invasão – ou melhor, tentativa de invasão pelo exército mais poderoso do mundo (com meio milhão de soldados fortemente armados, equipados e bem nutridos) que jogou em seu território (pequenino) mais bombas do que sobre a Alemanha durante toda a segunda guerra mundial. Isso destruiu, desnecessariamente, a totalidade da sua reserva de florestas naturais (não poderão valer-se de seus recursos florestais por cem anos, após aquela destruição cientificamente criminosa).

Sabe-se que a aventura militar dos Estados Unidos terminou no conhecido vexame, com diplomatas gringos e traidores nativos pendurados nos helicópteros na cobertura da embaixada ianque.


O que os serviços americanos de informação ignoraram, ou calaram, foi que a melhor arma dos vietnamitas foi a sua... cultura!!! Nem mais, nem menos!
Foi a soma dos seus conhecimentos milenares, a sabedoria dos seus tataravós zelosamente preservados e transmitidos para toda a população. Eles e seus filhos herdaram esse tesouro ao nascer, aprenderam a cantar ainda no berço, praticam os jogos que aprenderam a jogar desde meninos e meninas, apreciam os tecidos que sabem tecer artisticamente, em suas casas, desde sempre, os quadros que sabem desenhar, as histórias que sabem contar e cantar em qualquer escola do campo distante, das montanhas e das florestas, as comidas simples e as comidas requintadas que sabem cozinhar, os peixes que sabem pescar e preparar, no desejo comum de preservar o seu país e sua nacionalidade: - a maneira de velar, enterrar e honrar seus mortos, a maneira de celebrarem os casamentos, os partos, os cuidados com os bebês, com as crianças.
A vida do viver de todos os dias, de todas as pessoas ao longo de quatro mil anos, segundo as afirmações dos meus jovens colegas vietnamitas; sedimentou fortemente uma identidade nacional que venceu, seguidamente, diferentes bárbaros do norte e do oeste, piratas ferozes, chineses de várias etnias, japoneses, franceses e por fim a fortaleza assustadora dos Estados Unidos da América, com seus milhares de aviões, tanques, armas químicas e meio milhão de soldados bem remunerados e melhor armados.

Os vietnamitas lutaram com lanças de bambu, com armadilhas e túneis feitos à mão durante a noite, comendo, às vezes, pequenas cuias de arroz com um pouco de banha de porco. Quando tudo corria bem, incluíam um pouco de couro de porco no tal arroz e isso já era uma festa! Mesmo durante a luta, eles estudavam e liam em livros de papel (mal) reciclado, mal impressos e encadernados lastimavelmente... mas estudavam e liam! Os livros eram distribuídos gratuitamente e passavam de mão em mão. Os exemplares que eu examinei estavam em condições de chorar, mas eles os portavam e liam como exemplares da bíblia sagrada num mosteiro suíço. Eu perguntei pelos títulos daqueles livros: - Eram livros da sua literatura clássica, de poemas, de ensino técnico, patrióticos e outros de informações que se recusaram, sorrindo, a traduzir para mim, por razões óbvias. O que eles estudavam naquele país europeu enquanto milhares de irmãos eram assassinados em sua terra? Cursos técnicos, construção civil e de engenharia mecânica, para quando a guerra terminasse e eles seriam chamados para a reconstrução. As moças estudavam mais enfermagem, veterinária e medicina. O país estava sendo arrasado e eles, inabaláveis em sua confiança na vitória, já se preparavam para a reconstrução! Hoje, certamente, meus ex-companheiros lá estarão ainda a refazer seu país dos estragos norte-americanos. Tio Sam tinha tudo a destruir e destruiu tudo... menos a cultura. E foi por aí que perdeu a guerra. E outras perderá, a se darem condições semelhantes. Como aconteceu aos romanos, em seu tempo. Paulatinamente e sem retorno.

(segue)

08/03/2009

Dinâmica Percepção e Experimentos 2009/1 - INSCRIÇÕES ABERTAS

Estão abertas as inscrições para a primeira dinâmica Percepção e Experimentos de 2009: DANDO CORPO À MEMÓRIA, conduzida pela Bailarina e Diretora Corporal Virgínia Costábile.


Um trabalho a partir das memórias pessoais. Estarão em foco: a linha do tempo de cada participante, com destaque para os fatos por ele vividos e para os fatos acontecidos em seu entorno. Um mergulho naquilo que nos marcou em nossa história pessoal, as nossas sonoridades, as nossas paisagens... Deste material brotará a criação.

As dinâmicas não tem custo para os participantes, só sendo necessário o envio de currículo e carta de intenção para motin07@gmail.com para participar da seleção. Só serão aceitas as inscrições enviadas até 20 de março de 2009. Lembramos que todas as dinâmicas tem número limitado de vagas.

DINÂMICA PERCEPÇÃO E EXPERIMENTOS 2009/1 : DANDO CORPO À MEMÓRIA
Amotinada: Virgínia Costábile

Data: 29 de março de 2009 (domingo)
Horário: das 16 às 22 hoas
Local: Espaço 2 de Artes - Sala Linneu Dias (Rua Clélia, 33 - Shopping Pompéia Nobre - Perdizes - São Paulo)
Público Alvo: Atores e bailarinos
Inscrições: até 20.03.2009

Copo meio cheio ou meio vazio?

Tudo depende de quem vê.
Falar de extremos é um dos exercícios possíveis ao assistir o desfile de Ronaldo Fraga SPFW/INVERNO.2009.
Para ilustrar “as duas pontas”, na passarela, crianças, homens e mulheres (acima dos 65 anos, com cabelos brancos e rugas no rosto) mostram como a mesma história (a coleção é única) pode ser interpretada sob diferentes pontos de vista.
Dividindo ainda aquele espaço – um grande parque (?) – bonecos alternavam seu humor (sombrio e lúdico) de acordo com a variação da iluminação.
Ronaldo buscou inspiração no espetáculo “Giz” de Álvaro Apocalypse para o grupo de teatro de bonecos Giramundo. Segundo o estilista: “O texto trata de abandono e desamparo, do início e do fim do traço”.
A imagem das sereias envelhecidas (primeiro traje do vídeo abaixo) fala por si só.







Orlando Faya
Integrante do Núcleo MOTIN

06/03/2009

MOTIN . Ações 2009

Dando continuidade às ações do núcleo MOTIN em 2009, a partir de hoje, duas novas seções passam a integrar este blog.
Em Provocadores, parceiros e amigos do núcleo MOTIN são convidados a postar textos ou comentários que provoquem a discussão, colocando em foco o tema proposto.

Na seção Pílulas, os integrantes do núcleo MOTIN (Amotinados) postarão conteúdos (textos, imagens, vídeos) que potencialmente contribuirão (ou integrarão) as próximas dinâmicas Percepção e Experimentos.
Novos espaços, canais de comunicação e discussão dos quais esperamos que vocês façam parte lendo, comentando e debatendo.

04/03/2009

Percepção e Experimentos 2009 - Novos formatos

Dando continuidade às dinâmicas Percepção e Experimentos (PE), o MOTIN passará a realizar, simultaneamente, neste ano de 2009, duas modalidades das mesmas:

. as dinâmicas Percepção e Experimentos (PE) tradicionais;


. as novas dinâmicas Percepção e Experimentos/Continuadas (PEC).


As dinâmicas Percepção e Experimentos (PE) permanecem com o mesmo formato (para maiores detalhes a respeito do funcionamento, favor acessar a postagem Quem é deste blog).
As novas dinâmicas Percepção e Experimentos/Continuadas (PEC) funcionarão segundo o seguinte modelo:

1. Cada dinâmica tomará como tema um eixo em torno do qual serão realizados todos os seus módulos;

2. No ato da inscrição, aqueles que desejarem tomar parte da vivência já terão conhecimento do seu eixo-propulsor, bem como do número de módulos que a comporão (Ex: Módulo Atuação, Módulo Direção, Módulo Cenografia, Módulo Trabalho Corporal, etc.);

3. Os módulos terão periodicidade semanal, em dias da semana, local e horário previamente fixados;

4. Aqueles que desejarem se inscrever para a vivência deverão – obrigatoriamente – no momento em que solicitarem sua inscrição, explicitar sua opção por:


a.Tomar parte de todos os módulos que comporão a vivência;


ou

b.Tomar parte apenas do módulo da vivência de seu interesse específico (Ex: um participante que fizer esta opção e cujo interesse específico seja na área de Indumentária, pode optar por estar presente apenas no Módulo Figurinos da vivência em curso);

5. A frequência em todos os módulos da vivência – para aqueles que escolherem a opção “a” – terão cunho obrigatório, sob pena de eliminarem o participante da sequência dos trabalhos;

6. Depois de realizados todos os módulos, ao final da vivência, ela será debatida entre amotinados e participantes, tendo em vista a proposta inicial dos trabalhos, o processo percorrido pelo grupo ao longo dos módulos realizados e o “produto” resultante do processo partilhado;

7. Obedecendo à decisão tomada ao final de cada vivência pelos amotinados envolvidos, poderão ser chamados para assistir e debater o “resultado” do processo um número determinado de convidados do núcleo.

As inscrições para as dinâmicas PE e PEC serão abertas para o público em geral — ao invés de se convidar os participantes —, servindo de critério para a seleção o perfil do inscrito, sua adequação ao exercício proposto, bem como o número de vagas disponíveis para cada dinâmica. Aproveitamos para informar que ainda nesta semana serão lançadas a primeira PE 2009 e a primeira PEC. Automaticamente, suas inscrições estarão abertas, sendo o processo de seleção dos participantes feito respeitando-se as indicações acima descritas.


03/03/2009

Você quer ser um Amotinado?

Amotinado é o integrante do núcleo de estudos MOTIN, que oferece a dinâmica para um grupo de participantes convidados.
Para isso, ele deve lançar a proposta da aplicação - em forma de exercício prático – de algum tema de sua linha de pesquisa, para que este se transforme em uma dinâmica Percepção e Experimentos (PE).
Os temas devem ser focados em alguma das competências teatrais (direção, dramaturgia, iluminação, etc.) e, preferencialmente, utilizar uma dramaturgia específica para a aplicação do exercício proposto.
Então, interessado em ser um Amotinado ?
Envie sua proposta de dinâmica para
motin07@gmail.com , com o assunto: Proposta PE.
Nos conte também a respeito de suas experiências e atividades realizadas.
Seu material será avaliado e logo entraremos em contato.

Dinâmica Percepção e Experimentos 2008/3: O LUGAR – Exercícios sobre o espaço.

Cada cidade recebe a forma do deserto a que se opõe;
é assim que o cameleiro e o marinheiro vêem Despina,
cidade de confim entre dois desertos.
- Italo Calvino -

Trecho do livro "As Cidades Invisíveis"


Explorar o LUGAR que se pretende contar.
Investigar quais são seus sinais, seus códigos e como eles são absorvidos pela audiência.
Comunicar sem ser redundante e sugerir de forma explícita.
Esses foram os objetivos desta dinâmica, de onde nasceram respostas diversas e construções inusitadas.

Orlando Faya
Integrante do Núcleo MOTIN








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Ficha:
Dinâmica Percepção e Experimentos 2008/3: O LUGAR – Exercícios sobre o espaço.
Realização: MOTIN: Movimento de Teatro Independente
Responsável: Orlando Faya
Apoio: Orleyd Faya
Produção Geral: Magali Romano
Produção Executiva: Felipe Augusto S. Dias, Luciene Óca, Marcus Sioffi, Mariana Castro Vicente
Encontro realizado nos dias 29 e 30 de novembro de 2008 no Galpão Cultural - Santos - São Paulo - Brasil
Participantes: Adriano A. Costa, Carlos Oliveira, Edméa Matheus, Eliane Almeida, Felipe Augusto S. Dias, João Paulo M. Rivera, Kátia Balliano, Leonardo Calasans, Luciene Óca, Madeleine Alves dos Santos, Marcus Sioffi, Mariana Castro Vicente, Regina Gaia, Rose Laine Avlis, Tatiana Santi, Waldir Correia

02/03/2009

Dinâmica Percepção e Experimentos 2008_2: TEATRO ESPONTÂNEO: Uma Modalidade do Psicodramático

“Um encontro de dois: olhos nos olhos, face a face.
E quando estiveres perto, arrancar-te-ei os olhos e colocá-los-ei no lugar dos meus;
E arrancarei meus olhos
Para colocá-los no lugar dos teus;
Então ver-te-ei com teus olhos
E tu ver-me-ás com os meus".
- J. L. MORENO -



Um convite à investigação do ser humano por meio da criação artística, a representação da vida no palco (troca, relAÇÃO). Uma busca baseada na ação espontânea, despida de "prés", que verdadeiramente responda aos estímulos do momento.

Gisele Jorgetti
Integrante do Núcleo MOTIN




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Ficha:
Dinâmica Percepção e Experimentos 2008_2: TEATRO ESPONTÂNEO: Uma Modalidade do Psicodramático
Realização: MOTIN: Movimento de Teatro Independente
Responsável: Gisele Jorgetti
Apoio/Execução: Orleyd Faya
Suporte Administrativo: Magali Romano
Encontro realizado nos dias 01 e 02 de novembro de 2008 no Galpão Cultural - Santos - São Paulo - Brasil Participaram desta dinâmica: Cida Cinelli, Franci Moura, Felipe Augusto Sousa Dias, Luciene Óca, Mariana Castro Vicente, Marcus Sioffi, Rose Laine Avlis.



01/03/2009

Dinâmica Percepção e Experimentos 2008_1: ARRABAL: ABSURDO OU PÂNICO?

“Um homem enterrava meus pés na areia. Era na praia de Melilla.
Lembro-me de suas mãos em minhas pernas. Eu tinha três anos.
Enquanto o Sol brilhava, o coração e o diamante se estilhaçavam
em inúmeras gotas de água.
Perguntam-me sempre quem mais me influenciou, quem admiro mais,
e então, esquecendo Kafka e Lewis Carrol, a terrível paisagem e o
palácio infinito, esquecendo Gracian e Dostoievski, os confins do
universo e o sonho maldito, respondo que foi alguém de quem me
lembro apenas das mãos nos meus pés de criança: meu pai.”
- Fernando Arrabal -




Sua obra personalíssima revela evidentes traços autobiográficos. Segundo o próprio Arrabal, o material para seus escritos é retirado de sua memória, de seus medos, pesadelos e de sua assumida obsessão pela infância prisioneira.
Discutir a fronteira entre os dois movimentos foi o motor desta dinâmica.
Atingimos resultados surpreendentes e reveladores.

Orleyd Faya
Diretora do Núcleo MOTIN




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Ficha:
Dinâmica Percepção e Experimentos 2008_1: ARRABAL: ABSURDO OU PÂNICO?
Realização: MOTIN: Movimento de Teatro Independente
Responsável: Dir. Orleyd Faya
Apoio/Execução: Orlando Faya
Suporte Administrativo: Magali Romano
Encontro realizado nos dias 11 e 12 de outubro de 2008 no Galpão Cultural - Santos - São Paulo - Brasil
Participaram desta dinâmica: Alexandre Mendonça, Charnely Alves da Silva, Emanuella Alves, Ernani Sequinel, Fabiano Santos, Franci Moura, Felipe Augusto Sousa Dias, Iuri de Castro, Karla Lacerda, Luciene Óca, Mariana Castro Vicente, Marcelo Ramos, Marcus Sioffi, Rose Laine Avlis, Tatiane Lima de Borba.