25/07/2009

OLHAR

PÍLULAS FOCAIS
Por Madelene Alves (22/07/2009)

Não, não insisto mais nessa ideia de fazer os outros verem o mundo como eu vejo. Além de não sustentar o meu ego, outro ponto positivo é respeitar o direito dos outros a enxergarem o mundo com o olhos das suas experiências. No início, foi difícil aceitar esse tipo de postura — geralmente os comunicadores, sejam eles de qualquer ramo, ordem ou magnitude, empenham-se bastante no modo como transmitem as próprias verdades. Mas aquelas doses capsulares de realidade em grande quantidade e muitas vezes ao dia foram tiro-e-queda para os meus devaneios Aliciantes.
Por Madelene Alves (22/07/2009)

Sem dúvida, não me esquecerei núnca da última dose. Levaram somente alguns segundos até que aquela pílula vermelha já estivesse descendo goela abaixo; contudo, demorou um certo tempo até que aquela substância nela contida percorresse o meu sangue — via glóbulos vermelhos. O efeito? Cair na real e visualizar o quanto boa parte dos seus semelhantes não respeita as experiências que regulam o foco da lente dos seus olhos, ditando, por fim: veja como eu, ou te devoro.

Tentada a resvalar sempre pelo tronco do País das Maravilhas — que, graças aos deuses narrativos, ainda existe, persistentemente vizinho à Terra do Nunca —, a minha mente ainda não processou direito esse composto químico. É, portanto, um corpo estranho. Porém, como tudo na vida é uma lição e um ajuste de foco, guardarei os benefícios dos efeitos colaterais, de modo a apresentar aos olhos alheios os meus olhos cheios de devaneios.

E o que me conforta é saber que, com os que toparem a brincadeira, veremos certamente horizontes insuspeitos através do espelho.

Orleyd Faya
Diretora do Núcleo MOTIN


Colaboração de Madeleine Alves

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