27/02/2009

MOTIN

“Quisera mudar minha vida e a de todo mundo.
Não sei como fazê-lo.Senão a vida,
pelo menos o dia, a noite,
a hora, o minuto.”
- Joseph Chaikin -
Diretor do “Open Theater”


Ah! Nós que viemos homens e mulheres de teatro e nossa profunda ânsia de trazer à luz as revelações que – acreditamos – somos os únicos capazes de conceber.
Ah! Nós e nossas palavras proferidas, verbo que lançamos no vento e que nos auto-condena ao prazer da busca e à dor de eternamente buscar.
Entretanto, não temos saída: viemos atados a este desejo inabalável, a esta vocação persistente que põe no encontrar o outro o nosso alvo. E no trajeto que percorreremos (e)ternamente à procura dele, a surpresa de tropeçar repetidas vezes em nós mesmos e nos segredos que são só nossos, mas que permanecemos nos esforçando para esconder de nós.
Assoberbados no rastro de um rumo que nos torne possível trazer ao mundo o único ingrediente que intuímos poder torná-lo melhor, cremo-nos exclusivos conhecedores daquilo que há de fazer toda a diferença. Acreditamo-nos os únicos portadores da boa nova tão esperada.
Ingenuamente arrogantes, reprisamos os passos dos ancestrais heróis trágicos, embriagados que estamos pela vertiginosa ilusão de por momentos sentirmo-nos deuses.
E ainda que a temível punição nos seja inevitável, ainda que venhamos a ser impiedosamente castigados por nossa petulante ousadia, ainda assim arriscaríamos tudo pela remota possibilidade de chegar a tocar os céus.
A despeito de tudo, desconhecemos outra maneira possível de ser: hão de nos perdoar talvez por isto. Cometeremos a hybris e não há para nós outra saída.
Os olhos vazados de Édipo são nosso inapelável destino. Atam-nos ao paradoxal objeto de nossas ânsias atávicas e de nossa simultânea perdição.
Há que buscar. Incessantemente.
Há que buscar. Incansavelmente.
Buscar de perder o fôlego e chegar à ruína.
Buscar de perder a voz.
Buscar mesmo que não sabendo como, por onde ou por quê.
E é desta busca – vertigem e embriaguês, tropeço, aplauso e ebulição – que decidimos falar aqui, neste espaço que se inaugura, da forma que nos for possível e a partir de exatamente agora.
É desta insaciável busca, resultado de sermos descontentes do que já temos e do que já sabemos, que pretendemos falar.
Falar da busca que nos fez tramar um MOTIN, erguer as mangas e partir à deriva – porque não há mesmo como juntar garantias: é disto que pretendemos falar.
Estamos repletos. Completos da necessidade de dividir com outros esta (a)ventura. Este é, enfim, um chamado que fazemos para zarpar.
Esperamos por todo aquele que virá.

Orleyd Faya
Diretora do Núcleo MOTIN

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4 comentários:

Anônimo disse...

Lindo, minha irmã!
Sem palavaras.
Parabéns!

Anônimo disse...

Os indianos falam a respeito de um tipo de "aceitação" que os ocidentais desconhecem e que este texto seu, Orleyd, me fez lembrar agora... Não é a aceitação plácida, a aceitação de berço e pantufas: o conformismo repetitivo de uma mesmice rançosa.

É, na verdade, o reconhecimento do que relativamente somos, do que o outro relativamente é, das nossas relativas possibilidades de existência e inexistência imbricadas, que nos fazem ter consciênica dos infindos e insaciáveis passos a caminhar rumo a um prazeroso não-sei-o-quê-sem-fim.

Continuemos o caminho, pois: o primeiro passo foi larga e maravilhosamente dado!!!

Parabéns, Orleyd!! Beijos a todos!!

Anônimo disse...

Esse texto é simplesmente lindo.
Adorei...
Bjão a todos!

Anônimo disse...

A busca por algo é natural do ser humano, buscamos o peito da mae quando recem nascido, andar, buscamos falar, conhecer amigos, brincar, namorar... e chega um momento que as possibilidades de buscar esse algo se expande para o infinito. Eu em minhas viagens escrevi uma vez que o ser humano pretende ser deus, sua ganancia pode ser destrutiva como contrutiva, os dois lados do yin-yang que tambem sempre vai existir... mas nao se enganem pensando que somos livres disso... todos tem os 2 lados dentro de si, e o lado yang eh sempre mais atraente, o que fez de nossa sociedade extremamente egoista. Não prego que devemos ser autruistas, mas sim uma sociedade equilibrada... onde o yin e o yang viaje juntos nessa caminhada
muito legal a ideia do blog
vou adicionar no meu blog o link para este!

Marcus Sioffi